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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Não falta chão, falta céu



 Dia desses entrei naquele tal quarto; não sei se o chamo de velho ou se o chamo de novo. Mudei minha cama para o quarto maior, voltei a dormir com minha mãe. Aquele minúsculo quartinho lilás, que mais parecia um banheiro, agora serve apenas pra trocar de roupa. Julgo-o novo pois agora consigo ver os cantinhos que não conseguia varrer; também julgo-o velho pois, apesar de ter mudado os móveis de lugar, as paredes são as mesmas. Sem a cama para atrapalhar, agora posso encostar na janela. Se bem que a cama me ajudava muito, servindo de banquinho para alcançar o varal pra pendurar as toalhas de dentro da casa. Dia desses esqueci a janela aberta; já estava escurecendo e, quando me aproximei, pude sentir a brisa fresca do fim da tarde. Há muito tempo não sentia isso. Me dei conta de que isso foi ontem.
 Na minha infância morei em uma casa muito grande, ao meu ver. Era uma casa de fundo, mas ficava bem no meio do terreno, então eu dizia ter 4 quintais. Recordo-me de que passava horas olhando o céu,  seja sentada na janela mais alta, ou quando deitava no chão da sala e sentia a luz clara do sol que tomava a casa inteira, ou observava as estrelas enquanto lavava a louça por uma janela que ficava de frente a pia, ou mesmo quando me sentava no quintal. Essas lembranças estariam quase apagadas e esquecidas, se não fosse a leve brisa para reanimá-las.
 Agora, como a maioria das pessoas, vivo em uma casa tão pequena e abafada que mais parece um apartamento. Abro a janela e dou de cara com um muro. Muros e mais muros nos cercam. Para ver o céu, tenho que praticamente sair na rua. Pior de tudo é que eu mal saio; quando saio sempre encontro um sol fervente pra me dar as boas-vindas. Odeio o sol. Odeio o sol. Odeio o sol. Ele queimou meu braço e me deixou com duas cores. Talvez eu não odiasse quando era pequena, não me lembro. Talvez eu gostasse dele. Talvez porque o sol não fosse tão quente assim naquela época. Eu definitivamente deveria sair mais no fim de tarde, relembrar os velhos tempos. Talvez haja mais memórias enfraquecidas em mim. Talvez eu precise de apenas mais mil ou dois mil pôr- de-sois para reanimá-las.
 Fim de tarde. Magia no céu. Aquarela misturada. Nuvens brincam de se fantasiar de rosa, laranja e lilás. Fim de tarde, melhor hora que há.
 Sinto falta da brisa, sinto falta do céu, sinto falta de um quintal grande pra brincar, de uma bicicleta pra andar, de uma expansão azul para observar, do anoitecer, da luz amarelada de uma varanda velha pra passar o tempo jogando conversa fora. Realmente sinto falta da brisa. Sinto falta do vento e de qualquer coisa que me bata e que me toque para me fazer sentir novamente viva.
 Sinto falta de me sentir viva.

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