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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Poema: Céu Girando

Céu Girando


As estrelinhas que vejo
 Quando o chão começa a rodar,
 Não são tão bonitas quanto o imenso quadro
 Azul suspenso no ar.

 Nem a mais forte pressão ocular
 Que faz meu fundo do olho doer,
 Seria capaz de apagar
 A beleza que vejo em você.

 Não será a tontura, nem o desmaio, nem o mau estar
 Que me fará evitar
 De meus olhos em ti colocar-
 Lugar onde quero habitar.

 Quando meu campo de visão escurece
 E minha cabeça começa a rodar,
 Nem mesmo assim
 Deixaria de te contemplar.
-Palloma Beatriz

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Glitter, please!


Dei uma leve empolgada e fiz várias edições. kk

Detalhe das veias que fiz nas mãos, são as minhas veias.


Baseado nos meus desenhos antigos abaixo:


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Roda-gigante


- Não ouse tirar a venda!- Ordenou a garota assim que estacionou o carro.- Agora, vou colocar-lhe protetores de ouvido para que não escute nada. Fique tranquilo, te guiarei. Mas tome cuidado pra não tropeçar; não poderei te alertar ao dizer "vá pra esquerda ou vá pra direita", pois não me escutará. Terá de confiar em mim.
- Tudo bem.- Consentiu educadamente o garoto.- Além de cego, me fará surdo.
  Ela deu a volta e abriu a porta do carro. Puxou-o até a entrada, comprou dois ingressos. Subiram um, dois, três degraus. Sentaram-se com cuidado. O garoto sentiu uma barra de metal gelada prender suas pernas. A garota segurou sua mão para que não tivesse medo. Subitamente o chão se moveu para trás; ele apertou com força a mão da garota. O mundo parecia se mexer para frente e para trás, em um movimento contínuo. A garota decidiu tirar os protetores de ouvido dele e disse:
- Ainda não retire a venda. Sabe onde está?
- Só você seria capaz de me fazer ir ao Barco Viking. Sabe que é o brinquedo que mais tenho medo.  Com os olhos vendados a sensação é ainda pior. Estou todo arrepiado e meu estômago está embrulhado. Acho que vou vomitar!- A garota também estava sentindo calafrios e borboletas no estômago, mas o motivo era outro. Ela tomou coragem, se aproximou e o beijou suavemente. Depois o garoto soube que poderia tirar a venda para olhar nos olhos dela.
- Estou apaixonada por você.- Gaguejou a garota.
- É recíproco.- Beijou-a alegremente.
 Ao descerem do brinquedo, a puxou e disse:
 - Sabe qual brinquedo é mais romântico do que o Barco Viking? A roda-gigante!
 Enquanto girava, o garoto procurava algo no bolso. Um papel de bala. Torceu-o e deu um nó. Pegou a mão da menina e disse que aquela seria a aliança do compromisso doce que teriam. Ela repetiu o ato.
 Depois da terceira volta, a roda parou e a cabine deles estava no topo. Contemplaram a lua enquanto sentiam o coração um do outro.



Mais detalhes da ilustração aqui.

                        Não falta chão, falta céu
                        Aquela garota
                        Não se pode confiar no coração
                        Pessoas vazias

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Beijo Doce


  Le Jardin Secret, a doceria de São Paulo, tem uma decoração toda vintage e vende doces típicos da culinária francesa. O lugar perfeito para ir engordar com as amigas.
  Talvez fosse o fato de que o espaço parecia ser meio mágico, ou a alta quantidade de açúcar no sangue da menina, ou o menino chegou perto demais. Acabou acontecendo.
 Sara entrou na loja pela primeira vez. Ela acabou de fazer 18 anos e há um se mudou sozinha para a metrópole. Sempre foi seu sonho morar em São Paulo, ainda que todos dissessem a ela que alcançaria seus objetivos em qualquer lugar do mundo. O que eles não entendiam era que essa mudança a ajudaria- e muito- a aprimorar suas técnicas de desenho. Começou a faculdade há dois meses e havia acabado de sair de lá, com seus cadernos e mais cadernos e uma grande bolsa- que a deixava menor do que realmente era-, quando adentrou a doceria. Apesar de já ter passado um ano na cidade, não conheceu todos os lugares; nunca foi de sair muito.
 Um pouco estressada com as aulas, pois nunca acreditou que era capaz, ela pediu não uma, não duas, mas todas as especialidades da casa. Doce a fazia se sentir bem. O atendente riu e anotou o pedido. Estava tão apática que nem percebeu o quanto ele era bonito. Loiro com olhos cor de mel.
 Sara só foi notar o menino quando este a trouxe uma bandeja e colocou delicadamente sobre a mesinha em sua frente. Seu sorriso era tão branco que a deixou intrigada. “Como uma pessoa pode ter acesso a tantos doces e ter os dentes perfeitos?”, pensou alto. O garoto riu: “Doces enjoam!” Sara ficou sem graça por ter dito em voz alta. Nem deu atenção ao comentário do menino e enfiou um bolinho na boca.
 Enquanto devorava com voracidade o terceiro bonbon à la truffe, observava a decoração da loja. O ambiente meigo a impressionava; enquanto o que impressionava o menino, do outro lado da sala, era como ela comia com tanta rapidez.
 Meia hora havia se passado, e não era exagero dizer que o tinha na bandeja lembrava uma pilha e agora quase não havia mais nada. Sara começou a tossir.
- Você não está se sentindo bem? – Correu o garoto, preocupado.
- Isso é muito bom. Experimenta! - Sara enfiou meio bolo na boca do garoto, que havia acabado de se sentar ao lado dela.
- É realmente muito bom... - Disse o garoto, degustando o doce. Mas ele não se referia ao bolo.
 Seus rostos estavam tão perto, e o doce pode ter sido o culpado de tudo. Por um ímpeto, se aproximaram lentamente- seus narizes se tocaram, e seus lábios roçaram um no outro. O menino segurava o rosto da menina com as duas mãos, como se ela fosse a coisa mais delicada do mundo. A menina, com os batimentos acelerados, passava a mão no cabelo macio do menino. Entre um beijo e outro, eles se fitavam nos olhos. Ás vezes o menino deixava escapar um sorriso. Os beijos foram ficando cada vez mais intensos. O menino sussurrou: “Eu estava errado. Doces não enjoam.” E voltou a beijá-la como se ela fosse o último macaron do mundo.
 Sara nunca foi de beijar qualquer um. Apesar de desinibida e extrovertida, ela só namorou dois caras na vida. E foram erros.
 Quando acabaram, a falta de ar era visível nos dois. Foram beijos suaves e leves, por que estavam tão ofegantes assim?
 Sara acreditava que era porque ela nunca havia feito isso antes. O menino, por ter acabado de encontrar a mulher de sua vida.
 Dois estranhos em um sofá. Eles eram isso. Apenas dois estranhos que tinham acabado de se beijar.
 Quando esse pensamento tomou conta dela, pegou suas coisas, tirou 3 notas e jogou em cima da mesinha. Ela não estava nem aí para o troco, queria dar o fora dali. O menino sentiu o desejo de persegui-la como nunca havia sentido antes, mas não o fez. Por algum motivo, ele tinha de deixá-la ir.
 A menina partiu pelas ruas de São Paulo. Elas nunca estiveram tão embaralhadas antes. Parecia um labirinto. Sara estava perdida e confusa.



Conto e desenho de Palloma Beatriz Fialho Damas.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O garoto nada especial

 Ela não sabia o que mais a cativou nele, mas tinha certeza de que, se ele não usasse óculos, ela nem o notaria. Ele não tinha nada de especial. Rosto e físico completamente normais. Tinha as feições tão comuns quanto um boneco Lego: Dois olhos, uma boca e um cabelo sem graça.
 Talvez fosse o modo dele andar; talvez as camisas- um pouco coladas demais- que ele usava; talvez os óculos que o deixavam com cara de nerd; talvez aquele cabelo ralinho e baixinho que, coincidentemente, era o mesmo corte que a garota havia pedido para o seu irmão fazer algumas semanas antes. Ela não sabia bem o que era, mais algo nele a chamava atenção.
 Outra certeza que a garota tinha era que ele absolutamente não se chamaria Yuri, ou Bruno, ou Iago, ou Renan. Esses nomes não combinavam com ele. Se os pais dele o deram algum desses nomes, o encanto da menina se quebraria. Ele tinha cara de um possível Gustavo, Leandro, Marcelo, Caio, Vitor, Mateus... até Hernesto.
 E ele era o ideal de qualquer garota, por ser tão comum. Quando garotas viajam em cenas românticas ou até mesmo visualizam o cara perfeito, o que sai é exatamente ele.
 Fantasiando como seria o primeiro beijo dos dois, a garota- calejada de paixões de ônibus, que duram apenas alguns minutos-, resolveu dizer para si mesma, convicta:
 " Saia já do meu pensamento, garoto assustadoramente perfeito! Você é só mais uma paixão passageira. Tire logo esses óculos da cara, deixe o cabelo crescer, use roupas rasgadas e largas... E, se possível, saia da minha vista!"

Este é ele. A propósito, eu assisti ao filme Aventura Lego. Muito bom! Recomendo.