Le Jardin Secret, a doceria de São Paulo, tem uma decoração toda vintage e vende doces típicos da culinária francesa. O lugar perfeito para ir engordar com as amigas.
Talvez fosse o fato de que o espaço parecia ser meio mágico, ou a alta quantidade de açúcar no sangue da menina, ou o menino chegou perto demais. Acabou acontecendo.
Sara entrou na loja pela primeira vez. Ela acabou de fazer 18 anos e há um se mudou sozinha para a metrópole. Sempre foi seu sonho morar em São Paulo, ainda que todos dissessem a ela que alcançaria seus objetivos em qualquer lugar do mundo. O que eles não entendiam era que essa mudança a ajudaria- e muito- a aprimorar suas técnicas de desenho. Começou a faculdade há dois meses e havia acabado de sair de lá, com seus cadernos e mais cadernos e uma grande bolsa- que a deixava menor do que realmente era-, quando adentrou a doceria. Apesar de já ter passado um ano na cidade, não conheceu todos os lugares; nunca foi de sair muito.
Um pouco estressada com as aulas, pois nunca acreditou que era capaz, ela pediu não uma, não duas, mas todas as especialidades da casa. Doce a fazia se sentir bem. O atendente riu e anotou o pedido. Estava tão apática que nem percebeu o quanto ele era bonito. Loiro com olhos cor de mel.
Sara só foi notar o menino quando este a trouxe uma bandeja e colocou delicadamente sobre a mesinha em sua frente. Seu sorriso era tão branco que a deixou intrigada. “Como uma pessoa pode ter acesso a tantos doces e ter os dentes perfeitos?”, pensou alto. O garoto riu: “Doces enjoam!” Sara ficou sem graça por ter dito em voz alta. Nem deu atenção ao comentário do menino e enfiou um bolinho na boca.
Enquanto devorava com voracidade o terceiro bonbon à la truffe, observava a decoração da loja. O ambiente meigo a impressionava; enquanto o que impressionava o menino, do outro lado da sala, era como ela comia com tanta rapidez.
Meia hora havia se passado, e não era exagero dizer que o tinha na bandeja lembrava uma pilha e agora quase não havia mais nada. Sara começou a tossir.
- Você não está se sentindo bem? – Correu o garoto, preocupado.
- Isso é muito bom. Experimenta! - Sara enfiou meio bolo na boca do garoto, que havia acabado de se sentar ao lado dela.
- É realmente muito bom... - Disse o garoto, degustando o doce. Mas ele não se referia ao bolo.
Seus rostos estavam tão perto, e o doce pode ter sido o culpado de tudo. Por um ímpeto, se aproximaram lentamente- seus narizes se tocaram, e seus lábios roçaram um no outro. O menino segurava o rosto da menina com as duas mãos, como se ela fosse a coisa mais delicada do mundo. A menina, com os batimentos acelerados, passava a mão no cabelo macio do menino. Entre um beijo e outro, eles se fitavam nos olhos. Ás vezes o menino deixava escapar um sorriso. Os beijos foram ficando cada vez mais intensos. O menino sussurrou: “Eu estava errado. Doces não enjoam.” E voltou a beijá-la como se ela fosse o último macaron do mundo.
Sara nunca foi de beijar qualquer um. Apesar de desinibida e extrovertida, ela só namorou dois caras na vida. E foram erros.
Quando acabaram, a falta de ar era visível nos dois. Foram beijos suaves e leves, por que estavam tão ofegantes assim?
Sara acreditava que era porque ela nunca havia feito isso antes. O menino, por ter acabado de encontrar a mulher de sua vida.
Dois estranhos em um sofá. Eles eram isso. Apenas dois estranhos que tinham acabado de se beijar.
Quando esse pensamento tomou conta dela, pegou suas coisas, tirou 3 notas e jogou em cima da mesinha. Ela não estava nem aí para o troco, queria dar o fora dali. O menino sentiu o desejo de persegui-la como nunca havia sentido antes, mas não o fez. Por algum motivo, ele tinha de deixá-la ir.
A menina partiu pelas ruas de São Paulo. Elas nunca estiveram tão embaralhadas antes. Parecia um labirinto. Sara estava perdida e confusa.
Conto e desenho de Palloma Beatriz Fialho Damas.